Segundo famílias, há municípios que deixaram de oferecer carro para
trazer as crianças para tratamento no Recife. Além disso, AACD suspendeu
terapias em alguns casos
Helloa, 1 ano e 2 meses, fazia fono e
fisioterapia, como também terapia ocupacional na AACD. A mãe da menina,
Thayllane dos Santos, que mora em Paulista, conta que nunca teve transporte
para vir ao Recife em busca de tratamentos
Diego Nigro/JC Imagem
No mês em que o governo brasileiro
decidiu manter a emergência nacional em saúde pública por causa dos casos de
microcefalia associados ao zika, soa como paradoxo as famílias terem que
enfrentar transtornos em busca de reabilitação para as crianças com comprometimentos
decorrentes da infecção pelo vírus. Além disso, pais que moram fora da capital
pernambucana reclamam da falta de transporte para trazer os filhos aos serviços
de saúde no Recife.
“Há muitos municípios que estão sem fornecer
carro para essas famílias virem para a capital”, lamenta a presidente da União
de Mães de Anjos (UMA), Germana Soares, mãe de Guilherme, 1 ano, que nasceu com
a síndrome congênita do zika. A UMA reúne 319 famílias das crianças no Estado
com complicações associadas ao vírus. “Outro detalhe é que os casos mais graves
têm tido as terapias suspensas na AACD (sigla para Associação de Assistência à
Criança Deficiente). Isso acontece desde setembro.”
Entre os pacientes que deixaram de
passar pela reabilitação na AACD, está a pequena Helloa da Silva, 1 ano e 2
meses, que está há dois meses sem atividades. “Ela fazia fono, fisioterapia e
terapia ocupacional. Agora só está sendo acompanhada por neuropediatra e
ortopedista”, relata a dona de casa Thayllane dos Santos, 25, mãe de Helloa,
que mora em Paulista. Quando precisa vir ao Recife, ela sofre com a falta de
transporte. “Às vezes, solicito um Uber, mas tem sido mais barato contar com a
ajuda de um colega que tem carro. Pago o combustível para ele nos levar ao
Recife.” Em nota, a Secretaria de Saúde de Paulista confirma que o município
não tem veículo para o transporte. “É uma iniciativa que será colocada em
prática nos próximos meses.”
Neuropediatra da AACD, Vanessa Van Der
Linden explica que as terapias têm como meta estimular o potencial das
crianças. “Para aquelas que, perto de completarem 1 ano, não apresentarem
interação com o ambiente e não conseguirem ter controle da musculatura do
pescoço, por exemplo, a AACD (que se volta à área da reabilitação física) não
oferece terapias individuais. Orienta-se que seja procurado um local com
atendimento para deficiência múltipla (ocorrência de duas ou mais deficiências
simultaneamente, seja física, auditiva, intelectual ou visual)”, esclarece
Vanessa. A médica acrescenta que essas crianças não deixam de passar por
consultas médicas e que os pais também continuam a ser orientados sobre
estímulos que podem fazer com os filhos no dia a dia.
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
Em Pernambuco, só há dois serviços
habilitados pelo Ministério da Saúde para fornecer atendimento a quem convive
com deficiência múltipla: os Centros Especializados em Reabilitação da Fundação
Altino Ventura (FAV), na Iputinga, Zona Oeste do Recife, e o Mens Sana, em
Arcoverde (Sertão do Estado), da Fundação Terra. Na FAV, o entrave é a demanda
reprimida. No local, 146 crianças afetadas pelo zika estão em atendimento;
outras 159 permanecem em fila de espera. Segundo a entidade, são designados R$
425 por mês para esses pacientes. “Temos que nos enquadrar a esse custo”, diz o
responsável por convênios da FAV, José Vieira.
A verba vem do tesouro estadual e,
segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), o repasse à FAV está atrasado
devido a uma pendência contratual, que brevemente será solucionada. “Estamos
trabalhando para descentralizar ainda mais o atendimento, com implantação de
mais um serviço e também com encaminhamento ao Imip. Outra questão é que não
conseguimos avançar com o Ministério da Saúde em relação a habilitações de serviços
no Estado para múltipla deficiência. Ipojuca, Limoeiro e Afogados da Ingazeira
são municípios onde há centros para ser habilitados, mas ainda aguardamos”,
frisa a secretária-executiva de Atenção à Saúde da SES, Cristina Mota.
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